Eu tenho medo de engordar

Não pela saúde — que também importa —
mas pelo julgamento.

Desde os 8 anos, o mundo decidiu que meu corpo
era assunto público.
“Gorda, baleia, saco de areia!”
Cantavam os meninos.
E aquela música ficou mais grudada na minha pele
do que qualquer número na balança.

Engordar virou um “peso” dentro de mim.

Hoje, tomo um remédio para meu transtorno bipolar
que pode causar ganho de peso.
Meu “amigo necessário e traiçoeiro”.
E a perimenopausa? Chegou pra fazer parceria.

Quando alguém me olha dos pés à cabeça,
sem dizer uma palavra,
eu escuto um julgamento inteiro no silêncio.
Eu viro quilos.
Eu deixo de ser mente, história, alegria,
alma que pulsa.
Eu viro corpo medido.
Corpo avaliado.
Corpo condenado.

E o mais cruel?
Não é o que as pessoas realmente dizem.
É tudo o que eu espero que elas digam.
Eu mesma virei a bully
que aprendi a temer.

Agora, penso em ir ao Brasil.
E já imagino as frases que talvez nunca venham:
“Ela engordou…”
“Meu Deus, como ela tá diferente…”
Essas frases imaginárias
já quase me tiraram a vontade de abraçar quem amo.

Mas também imagino a minha mãe.
Minha madrinha.
Meu pai.
Esses olhares que me reconhecem antes do meu corpo.
Que me veem por dentro.

Queria só isso:
chegar, sentir saudade no peito,
abraçar com força,
rir das histórias,
comer coisa gostosa,
e ir embora leve.

Eu sei que o corpo passa.
O que a gente vive, não.

Talvez eu precise repetir isso até acreditar.
Talvez essa viagem seja parte da cura.
Talvez a coragem esteja
em ir do jeito que estou
e ainda assim me permitir ser feliz.

E, a propósito… que tal trocarmos a pergunta?

De
“Nossa, você engordou?”
para
“Como você está?”
ou
“O que você tem vivido?”
ou
“Que bom te ver!”

A vida é grande demais
para caber em um manequim.

Previous
Previous

When Silence Becomes Love

Next
Next

Meet My Characters (Or Maybe, Meet Me)