A Menina Dentro da Figueira: como uma história brotou dentro da outra

Ela não estava nos planos.
Não no início.

Maya escrevia em seu diário, e eu escrevia Maya.
Ela pensava na casa, e eu pensava em como traduzir o eco das tábuas para algo que não fosse só madeira e memória.
Foi então que apareceu.
Primeiro como um esboço. Depois, como um sussurro.
Uma menina.

Não uma filha.
Não uma personagem secundária.
Mas uma presença — discreta, curiosa, quase invisível — que começou a escutar coisas que nem Maya nem Tomás estavam prontos para ouvir.

The Girl Who Listened to Houses nasceu dentro do romance A Fig Tree, Two Hearts, and the Sunlight Again.
Literalmente.
É o livro que Maya escreve como parte de seu processo de cura.
É a obra que Tomás encontra.
É o que sobrevive depois da perda, da reconstrução, da coragem de voltar.
E, ao mesmo tempo, é muito mais do que isso.

Com o tempo, percebi que The Girl não era só uma metáfora no romance.
Ela queria ser livro de verdade.
Queria ter suas próprias janelas, seus próprios silêncios, seus próprios leitores.

Então eu escutei.
E deixei que ela falasse.

As duas histórias não têm os mesmos nomes, mas compartilham a mesma casa.
Ou melhor — duas casas diferentes que ecoam uma à outra.

A casa de Maya é real: feita de concreto, vigas, reforma.
A casa da Menina é simbólica: feita de cômodos emocionais, perguntas, fantasmas suaves.

Mas ambas guardam cartas não enviadas.
Ambas respiram lembranças.
E ambas têm uma figueira do lado de fora — torta, atenta, viva.

Maya pergunta em seu diário:

“É possível que uma casa te escute de volta?”
A Menina responde em silêncio:
“O silêncio pode criar raízes?”

Frases que aparecem num livro, retornam no outro.

“Quero cultivar coisas que não vão embora.”
“Tudo bem ficar em silêncio quando o coração ainda faz barulho?”
“Alguns adeuses não precisam de palavras. Só de raízes que lembrem onde foram plantadas.”
“Eu não queria esquecer. Eu só estava tentando sobreviver.”

Essas palavras são sementes.
Num livro, são ditas.
No outro, são sentidas.

Maya e a Menina talvez nunca se encontrem.
Mas uma nasceu da outra.
E eu, autora das duas, continuo ouvindo ambas —
como quem escuta o ranger de uma casa antiga,
sem saber se vem da estrutura ou do coração.

Talvez The Girl seja o que Maya teria sido se tivesse aprendido, desde cedo, a escutar.
Ou talvez seja o que sobrou da Maya que um dia escutou e se calou.

Talvez as duas morem na mesma história.
Só que em andares diferentes.

🌿 A Fig Tree é sobre reconstruir.
🍃 The Girl é sobre escutar.

E juntas, essas duas histórias me lembram que às vezes a gente precisa perder tudo para ouvir o que realmente ficou.

Se você leu uma, espero que a outra ecoe.
Se você ainda vai ler, que encontre um cômodo seu em alguma página.

✨ Que a casa seja o mapa.
✨ Que a pergunta seja a chave.
✨ E que a menina em silêncio não passe despercebida.

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